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DO PORTO. CAP. I
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achando nas ſuas margens a famoſa Lisboa, que denomina Olioſippo, demorou-ſe em medir a ſua latitude, e a ſua longitude; e ſeria poſſivel, que fallando do Rio Douro diſſeſſe ſómente, que a ſua Barra eſtá em 5. gr., e 20. min. de long. 41., e 50. min. de latit., ſem fallar huma ſó palavra da Cidade Cale, ou Portucalle? Naõ lhe ſería mais intereſſante a ſua deſcripçaõ, que a das margens de hum Rio, que hoje banha os ſeus Muros? Se foi eſquecimento em Ptolomeu, como o teve tambem Strabo, Pomponio, Plinio, e outros Geografos daquelle tempo? Como o tiveraõ aquelles, que incluindo na Provincia Tarraconenſe os Reinos de Murcia, Valença, Aragaõ, Navarra, Catalunha, Caſtella a Velha, Galiza, as terras d’Entre Douro, e Minho, e fallando da ſituaçaõ de Tuy, Braga, Guimaraens, e outras Povoaçoens ſituadas neſtas meſmas terras, naõ diſſeraõ huma ſó palavra de Cidade alguma, ſita na margem ſeptentrional do Rio Douro?

[1] Confirma-ſe eſte fundamento com o que todos ſábem a reſpeito das preeminencias concedidas a muitas Cidades da Luzitania, e ainda á Cidade de Braga, que lhe era bem viſinha, e hoje incluida na meſma Luzitania. Huma teeve o epitheto de Liberalitas Julia, como foi Evora: outra o de Felicitas Julia como foi Lisboa: outra o de Præſidium Julium, como foi Santarem: outra o de Pax Julia, como foi Béja: outra o de Brachara Auguſta, como foi Braga &c., e ſómente a Cidade Portucale, que devia ter a primeira acceitaçaõ de Julio Cezar, ou ainda dos Senadores, e Conſules da antiga

Répu-

  1. XII. Segunda inveroſimilidade.