Bordo do Espírito Santo, 7 de agosto de 1897.
Depois de quatro longos dias de verdadeira tortura subo pela última vez à tolda do vapor na entrada belíssima e arrebatadora da Bahia.
Não descreverei os incidentes da viagem, vistos todos através de inconcebível mal-estar, desde o momento emocionante da partida em que Bueno de Andrada e Teixeira de Souza — um temperamento feliz, enérgico e bom, e uma alma austera de filósofo — representaram em dois abraços todos os meus amigos de S.Paulo e do Rio, até o seu termo final, nas águas desta histórica paragem.
Escrevo rápidamente, direi mesmo vertiginosamente, acotovelado a todo o instante por passageiros que irradiam em todas as direções sobre o tombadilho, na azáfama ruidosa da chegada, através de um coro de interjeições festivas no qual meia dúzia de línguas se amoldam ao mesmo entusiasmo. É a admiração perene e intensa pela nossa natureza olímpica e fulgurante, prefigurando na estranha majestade a grandeza da nossa nacionalidade futura.
E, realmente, o quadro é surpreendedor.
Afeito ao aspecto imponente do litoral do Sul onde as serras altíssímas e denteadas de gnaisse recortam vivamente o espaço investindo de um modo soberano as alturas, é singular que o observador encontre aqui a mesma majestade e a mesma perspectiva sob
Bahia, agosto 7 (12h30m).
Chegamos bem. Fomos recebidos pelo Governador e pelo funcionalismo civil e militar. Observo que nesta cidade há muito menos curiosidade sobre os negócios de Canudos do que aí e no Rio de Janeiro. O 1º batalhão da polícia de S. Paulo desembarcou hoje. A correção e o garbo da força paulista despertaram entusiasmo geral.
Visitei no quartel de Palma o coronel Carlos Teles, que foi ferido na clavícula direita, sem gravidade. Visitei também o bravo militar Savaget que me afirmou não existirem em Canudos mais de duzentos homens nos redutos conselheiristas. O general Savaget disse-me que a vitória é próxima e segura.