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sado, receando que a vida possa de novo atraiçoar-me ― e definitivamente — como atraiçoou a ti.

Está aqui o teu segundo livro, amôr. Se a morte vier, já só encontrará em mim esta ansia de ver o homem redimido das iniquidades que ele proprio creou, já que da dôr da existencia não será facil a redenção.

Desejavas tu que as Memorias duma mulher da época levassem um prefácio — um prefácio onde dirias das intenções desta novela e de toda a tua obra, tão insubmissa, tão subtil e tão feminina. Algumas vezes te ouvi falar dessas palavras com que pensavas abrir o livro, explicando-o. Quiz, porem, o condicionalismo da nossa vida que fosse eu e não tu quem as escrevesse.

Faço-o com essa angustiosa sensação de quem não pode fazer mais nada em homenagem a quem tudo merecia e que lhe parece muito pouco e inutil tudo quanto faz. Ha momentos em que até a nossa propria vida dir-se-ha oferta mesquinha a quem, como tu, conseguiu abrir em toda uma existencia de sofrimento, uma pausa de luz e de amor!

Ferreira de Castro

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