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Diana de Liz: Memorias


 

pais trouxéram-me para sua casa logo após a morte de meu marido. Mas eu, consultando-me intimamente, julgo que teria sido preferivel deixarem-me só, entregue à minha dôr, naquela residência quási deserta, a obrigarem-me a convivêr com êles, que, apesar de carinhosos, condoídos e contristados, não pódem apreender o meu verdadeiro estado de espírito...

Aquelas oito noites que antecederam a morte do Carlos, noites agitadas em que o querido doente desejava forçosamente erguer-se, proferindo, em repentes de delírio, frases truncadas, extravagantes, geradas pela febre intensíssima, aquelas noites angustiosas de torturante expectativa, depois de dias de relativa quietação, prostraram-me a ponto da própria Morte pouco mais me impressionar, porque tendo o espírito enfraquecido, a energia exgotada, os nervos desfeitos, já mal podia avaliar do que em volta de mim se passava. Estava mentalmente inerte quando para aqui vim e só passados dois dias pude atentar na minha infelicidade e dar largas ao pranto.

Tenho pedido a Deus que me não abandone, que me dê forças para resignar-me á minha sorte. Sinto-me mais animosa e apenas se me humedecem agora os olhos, ao pensar que sou ainda tão nova e já viúva. Tenho, no entanto, a convicção de que esta mágoa nunca passará.


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