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Diana de Liz: Memorias


 

CLOTILDE — Foi de repente... Eu tinha parado, a olhar para o céu... a vêr um bando de passarinhos... e êle, zet! Deu-me um beijo na face esquerda...

CLARINHA — Eu faço idéa do susto que tivéste!

CLOTILDE — Qual história! Não tive susto nenhum. Ele é muito simpático. Foi só uma certa confusão...

CLARISSE — E já tornou a fazer o mesmo?

CLOTILDE — Só na segunda-feira é que volta cá; isto foi na quinta. Agora, que vocês cá estão, não póde sêr, mas depois é natural que sim... O que teve graça é que eu, com a surpreza, deixei caír uma rosinha que levava na mão; êle abaixou-se para ma apanhar mas — não sei como aquilo foi — saltou-lhe do bolso um postal com o retrato duma rapariga com tipo de estrangeira. Eu, para disfarçar a confusão em que tinha ficado, preguntei-lhe quem era. — Fez-me lêr: Un bon souvenir de votre amie Margueritte — e disse que era uma rapariga com quem costuma passear muito, quando vai á Belgica... Parece que é professora, não sei bem... Tambem me disse que eram simples camaradas e que nunca lhe tinha dado um beijo. — Nunca lhe deu um beijo? — preguntei-lhe eu. E êle respondeu-me, assim muito frio: — Não. Para quê?!


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