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duma mulher da epoca


 

O CONSELHEIRO — Quem é o Acácio?

A DONA DA CASA (atrapalhadamente) — O Acácio Rodrigues, um sujeito que morava ali defronte e morreu a semana passada...

O CONSELHEIRO — Não conheci.

A SENHORA PICANTE — Era bom rapaz...

O Conselheiro espirra com estrondo. O outro militar ampara precipitadamente uma jarra que estremeceu com o espirro e está sobre a mêsa a que o Conselheiro se encosta.

A DONA DA CASA (a um dos sujeitos vagos) — Oh, sr. Menezes, que vento! Era melhor fechar a janela, não acha? (O interpelado vai, pressuroso, fechar a janela).

O OUTRO SUJEITO VAGO (ao escritor modernista) — Você já encontrou aquele fim de capitulo que ia procurando, ontem, á tarde, no Chiado?

O ESCRITOR (com pose) — Sim, já. Foi curioso; encontrei-o precisamente no momento em que um cauteleiro pisava uma senhora que ia a passar. A pobre criatura deu um grito doloroso e ergueu os olhos ao céu; eu, sem querer, ergui tambem os meus e fixei-os num para-raios. Uma inspiração súbita... Até ali, não sabia bem se o capitulo devia terminar com a heroína emmudecida, entregue a um silencioso desespero, ou se devia mostrá-la fisicamente exal-

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