Almira, a tentares interessar-te pela mulher da cave, que é pobre, está doente e tem quatro filhos pequenos, ou pela ninhada de gatitos sem dono que solta, no quintal próximo, uns miaus aflictivos... Exclamarás, então: «Meu Deus! Como custa ser boa!»
O hábito pode muito, porém, nêste mundo de fraquezas. E eu julgo que, exercitando a tua força de vontade, conseguirás preocupar-te muito menos com os triunfos fictícios de algumas mulheres, se te propuzeres vencê-las, por tua vez, à custa de muita despretenção, de muita generosidade, de infinita gentileza...
Demais, passar uma existência inteira a invejar e detestar os outros, deve ser muito fatigante.
Estuda bem a tua alma, minha querida Lúcia. Estou certa de que, se porfiares em seguir os meus conselhos, conseguirás exterminar a «espécie de neurastenia» que te empalidece a epiderme, te rouba o repouso noturno e faz sorrir maliciosamente as tuas e as minhas amigas...
Lisboa, 1929.
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