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Diana de Liz: Memorias


 

tas... E preparas-te para me citar o marido — altruista e não egoísta — de certa amiga nossa, a Lila, essa que tem a obsessão das complicações de ordem pseudo-sentimental e as inventa quando elas não existem na realidade... Mas é engano, minha querida! Os homens como êsse marido complacente não são verdadeiros homens e a prova de que o não são é que tanto tu como eu os desprezamos... A verdade é que o egoísmo do homem, ás vezes tão crú, tão dificil de suportar, representa, em geral, uma modalidade do seu brio; nós é que o interpretamos mal e nos revoltamos sem razão...

Não, não me disponho a vociferar mal contra os homens, como tu desejarias que eu fizésse ― porque não gosto de que êles vociferem contra nós. Resignemo-nos a aceitá-los como são, que é o modo melhor de os convencermos a aceitar-nos como sômos... E por isso te aconselho, minha querida Almira, a submeter-te, ainda que aparentemente, á tirania do egoísta encantador que é o teu Vasco. Posso afirmar-te que te seria intolerável outro homem, menos brioso e mais condescendente, que surgisse no horizonte do teu Capricho...

 

Lisboa, 1924 (?)

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