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O aniversário


 

Minha querida Leopoldina:

Esta minha carta, vai, sem dúvida, surpreender-te, porque há mais de oito meses que não te dou notícias minhas. Tenho estado preguiçosa para escrever e só um grande desejo de comunicar, de transmitir a uma confidente discreta as minhas mais modernas impressões me leva a fazel-o. Perdôa-me o egoísmo. Calculo que a tua vida não terá sofrido qualquer alteração e que os teus filhos continuarão também nas invejaveis condições de saude e alegria em que mos descrevias na tua ultima carta; por isso me apressei a falar de mim, deste Eu soberano, dominador, despota, que absorve quasi todos os meus pensamentos. Creio que devem ser assim todos os mortaes enamorados de si mesmos, como eu.

Porque não o confessarei? E' que, efectivamente, querida Leopoldina, eu adoro-me a mim propria, admiro-me incessantemente neste meu conjuncto de qualidades e defeitos, de encantos e imperfeições. De

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