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Diana de Liz: Memorias


 

posso dizer-lhe mais é isto: sua mulher sabe que êsse homem a ama.

— Sabe?

— Sabe, sim. Êle declarou-lhe o seu afecto, quatro ou cinco mêses antes dela casar consigo. Simplesmente, já estava noiva e cumpria-lhe esquivar-se.

— Está bem certa do que diz, Camila ?

— Absolutamente certa. Bem vê, se o não estivesse não ousaria falar-lhe no assunto. Ora, aqui entre nós, Filipe, parece-lhe coisa de espantos que se você traísse o seu estado de espirito junto de sua mulher, ela se recordasse de que há um homem que a adora e pensasse que, se o tivésse desposado, seria talvez mais feliz?

— Mas ela não póde adivinhar o que eu penso. Exteriormente, continúo sendo o mesmo.

— As mulheres adivinham sempre essas coisas, meu ingénuo Filipe. Por exemplo: Você supoz, quando me anunciou o nosso rompimento, que essa noticia vinha colher-me desprevenida? Não vinha, não. Eu tinha já pressentido em redor de nós qualquer coisa de vago, de indefinido, de dolorosamente impalpável, mas que existia. Somos assim, que quere?

— Pois julga que minha mulher?

— Julgo, julgo! E julgo mais que não há mulher alguma que não sinta prazer em sêr amada, mesmo

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