Da ultima vez que estive em Lisboa, aí por 1931, eu soube que desaparecêra prematuramente do número dos vivos o vulto inconfundivel de Diana de Liz, que ficará sendo, indiscutivelmente, como um dos maiores valores literários femininos da nossa terra.
Casualmente, e na propria rua Apeles Espanca, onde os lindos olhos de Maria Eugenia se apagaram de vez, renunciando ás visões d'este mundo, eu tive conhecimento da triste notícia.
E' estranho aquele acontecimento, participado em meia duzia de palavras, ficou ecoando nos meus ouvidos como o estrondo de uma derrocada...
Volvido um ano ou pouco mais, surge á luz da publicidade, na ingrata feira da literatura, o volume das Pedras Falsas, de Diana de Liz.
Nunca poderei esquecer a persistencia com que os meus olhos leram e releram e teimosamente se fixaram sôbre as cinco folhas do seu Prefacio, que são o melhor acompanhamento, a mais delicada e sentida sinfonia de abertura que poderia dar-se á obra verdadeiramente magistral e de tão grande significado literário.
Ferreira de Castro, erguendo bem alto o calix da sua amargura, fê-lo num gesto inesquecivel que foi a melhor homenagem do coração amante e saudoso de um homem.
Ferreira de Castro falou de maneira que nos obrigou a chorar com êle uma dôr verdadeiramente sobrehumana! Dez paginas que são a mortalha de flores mais mimosa, mais enternecida e mais linda que jámais se desfolhou sobre a campa de uma mulher.
Não é preciso conhecer as ciências nem falar as línguas estranhas para entender aquele brado que é de entendimento universal, cujo sentido cabe dentro de todas as religiões e no limite de todas as almas:
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