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Diana de Liz: Memorias


— Eu ri, ri como uma louca. Parece-me que ainda hoje não estou completamente bôa...

15 de Novembro

Ontem, á noite, esteve cá a Maria de Lourdes com a irmã. Trouxe o violino e tocou alguns trechos celebrados; a irmã acompanhava-a ao piano. Por fim, para ser agradavel a meu pai, tocou uma peça de ritmo extranho e sugestivo. Vasco adora a musica e só tinha olhos para a executante... Ela é insinuantissima; o seu perfil, quasi clássico, a sua fronte de artista, os seus cabelos negros e lisos formam um conjunto de especial encanto. Veste mal, contudo, e não tem a minima coqueteria. Eu, de modo algum, introduziria o meu corpinho esbelto naquele vestido afogado e decerto não teria ânimo de cortar os meus caracoes e passar a usar os cabelos assim lisos, repuxados. E, apesar do seu invulgar talento, não posso deixar de confessar a mim própria que me não trocaria por ela, mesmo que isso fosse possivel. Gosto das minhas feições vivas e irregulares, dos meus cabelos partidos e frisados e, até, da minha execução imperfeita, ao piano, dos grandes clássicos. Gosto dos meus vestidos de audaciosa elegancia... Não, realmente, eu sou mais bonita do que ela... Porque seria que Vasco a não desfitou durante toda a noite?!

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