sempre a rir. Deixei-me beijar, por fim, com o que ele exultou. Afinal de contas, não lhe quero mal.
Homens! Devo tornar-me tolerante e é possivel que acabe, como tantas outras, por habituar-me a estas traições.
Se a verdadeira vida é assim, não se pode dizer que seja animadora... Mas que remedio, senão filosofar!
22 de Março
Ontem, á noite, enquanto meu marido trabalhava em frente de uma pirâmide de planos, livros tecnicos e outros papeis dêsses que sempre me têm afugentado — e eu que havia julgado o contrario! — estive algum tempo à janela do meu quarto.
Tinha fechado a luz, antes de me sentar no divam que ocupa o vão dessa janela, raramente aberta. Onze horas, silencio, melancolia. Aflorou-me os labios um sorriso de irónica tristeza, ao recordar todo o meu alvoroço de há quatro mezes. Compreendo agora quanto tinham de insensatas e absurdas as minhas ambições sentimentais.
Eu esperava da vida qualquer coisa que não sei nem soube nunca definir qualquer coisa de bom, de belo, de entusiastico, que viesse preencher o meu coração enfermo de vácuo e soledade. Supuz que, ao
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