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Diana de Liz: Memorias


suprema! — o caracter de meu marido... Quantas vezes tenho lamentado a resolução absurda que, arrebatadamente, sem ouvir vozes amigas e conciliadoras, tomei! Houve cerca de um ano de dor e lagrimas após esse divorcio e veio, depois, o reagir natural da minha mocidade com o desabrochar dum caracter, dum temperamento até então incertos, como que cerrados... E o desgosto da minha situação foi-se atenuando a pouco e pouco, no declinar normal das grandes comoções. Já não existe hoje a Fausta doutros tempos, orgulhosa, exigente — e irrepreensivel — que tantas vezes se julgou, insensatamente, superior ás outras mulheres e refractaria ao pecado. Agora, apeada para sempre do altar da virtude, flôr assimetrica e doentía duma geração corrompida, vivo da ilusão e pelos nervos. Sou apenas Ashavérus-femea que um triste destino faz vaguear pelo país acidentado do amôr, no qual, por nunca explicados fenómenos, a cada passo as planicies se transmudam em montanhas — e as calmas lagunas, por onde navega a doirada barca do Sonho, tantas vezes naufragada, vão ligar-se a mares tormentosos. Tenho bebido de há cinco anos para cá, e a grandes tragos, o licor capitoso da taça da Emoção e tambem provado o veneno da Dúvida e o fel de desengano, cujas amarguras me são conhecidas.


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