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Diana de Liz: Memorias


exacerbamento, neste século de febre e de nevrose... Luciano, Luciano, quem me dera, neste instante, encostar ao teu ombro a minha cabeça entontecida, chorar lágrimas benditas que apaziguassem os meus nervos tensos e abandonar-me ao teu afecto generoso e calmo!

Dezembro, terça-feira, 4.

Tive ontem, com Gilberto, uma conversação extravagante.

Estavamos lado a lado, num sofá. Costumamos encontrar-nos num rés-do-chão com altas gelosías, que tornam penumbrosa a salinha onde conversamos. Gilberto, que é, alternadamente, fogoso e frio, entusiastico e ceptico, perguntou-me, de repente:

— Fausta, quantas aventuras como esta tens tu tido?

— E' esta a segunda — respondi, recapitulando mentalmente e calando inumeros flirts sem consequencias, para recordar, comovida, a afeição sincera de L., que ía endoidecendo e me ía endoidecendo tambem com as pretensas descobertas de supostas infidelidades minhas e que a força do destino levou para longe, para muito longe...

— Só! Não acredito...

—Pensa o que quizeres...

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