Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/66

Diana de Liz: Memorias


— Dize tudo, faze favor — repliquei.

— Fui vizita-lo. Estava sentado á secretaria, a acabar uma carta. Tinha já feito o sobrescrito, que estava deante dêle. Não sei se sabes que Luciano tem o habito de fazer o sobrescrito antes das cartas... Apenas me viu no limiar da porta, ocultou discretamente a direcção traçada. Preguntei-lhe, autorizado a isso pela nossa antiga amizade, se aquela carta era para uma mulher. Disse-me que sim e, naturalmente porque se sentia comunicativo naquele momento, leu-ma. Um homem como Luciano só escreve cartas como aquela a uma mulher a quem ame... Fizémos ambos, a seguir, algumas considerações sobre o Amôr e, pouco depois, mudámos de assunto. Mas a curiosidade não é exclusivamente feminina... Fui incorrecto, confesso... Enquanto Luciano foi á porta, chamar alguem, consegui vêr o sobrescrito e li nele o teu nome. Aqui está como te colho numa dupla infidelidade...

Gilberto sorria, irónico. A boca dêle é das mais sugestivas que tenho visto... Mas aquele tom sarcastico, de artificioso cinismo, enfureceu-me.

— Luciano é um excelente amigo, por quem tenho uma grande amizade. Admiro o seu espirito, a sua nobreza de caracter, mas... não há entre mim e ele laços intimos, como tu pareces insinuar.

— 64 —