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A Diana de Liz

 

Está aqui, amôr, a tua novela. Durante quasi dois anos fugi, covarde perante uma dôr maior, de seleccionar os teus papeis, os papeis que as tuas mãos e os teus olhos acariciaram e que foram do muito pouco que pedi para se salvar do naufragio da nossa vida. Mas, ha meses, numa livida antemanhã de hospital, arrependi-me de não ter enfrentado a nova dôr, lacerando mais uma vez o pobre coração. A morte que, desde ha dias, estava estendida ao meu lado, parecia, finalmente, resolvida a levar-me tambem. Eu, de certa maneira, não a temia; desde que ela te arrebatou ao meu carinho, ¿que importava que me cerrasse tambem a mim, e para sempre, os olhos?

Mas uma outra angustia me pungia: não proceder e orientar a publicação da tua novela, do teu ultimo livro, já que o primeiro se encontrava impresso. Isso e não ver um pouco mais de amôr e de justiça sobre a terra agora que eu creio que a sua aurora está iminente eram as unicas rasões que me

prendiam a vida, ao sentir-me morrer. Tu sabes como eu te amei e como amo a Humanidade e sofro com o seu des-

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