Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/78

Diana de Liz: Memorias


gnificante — das minhas frequentes nevralgias. Enquanto esperava a consulta, aninhada a um canto da sala de entrada, mãos escondidas no regalo, puz-me a observar os outros clientes. Ao meu lado, uma juvenil estudante, ar anémico, livros perto de si, movia, para um e outro lado, uns olhos claros, sonhadores. E naquele olhar transparecia a enternecedora confiança que aos dezaseis anos se tem sempre num futuro côr de rosa, adivinhava-se a esperança ingénua de justas, legítimas alegrias.

Comovi-me ao examinar aquela creança encantadora. Lembrei-me de que talvez os lindos projectos que a sua alma tenra vai afagando, segundo presumi, não venham nunca a realizar-se — porque assim é a vida, hidra voraz, insaciavel, que, uma a uma, devora as nossas ilusões...

Havía um homem banal, com aparencia de negociante rico, que conversava sobre cambios com um sujeito ético e triste. Uma mulher ainda nova, em frente, deu-me que scismar. É impossivel ser-se mais completamente desgraciosa do que era aquela creatura de queixo alongado, olhar mortiço e palpebras enrugadas. Nem ao menos um certo gosto no vestir, um ligeiro sentimento de coquetismo a auxiliavam. Aquele vestido azul-escuro poderia muito bem estar feito e vestido com mais arte; o chapéu, de veludo

76 —