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Diana de Liz: Memorias


Segunda-feira, 14.

Está diante de mim uma carta de Gilberto, estranha resposta ao bilhete em que ante-ontem lhe demonstrei a minha saudade e o meu desejo de o vêr novamente são e alegre.

Que carta! Desorientou-me e fez-me chorar; tenho ainda os olhos húmidos ao escrever esta página do meu caderno. Gilberto diz-se ligeiramente neurasténico, combalido pela influenza e indignado «pela minha perfidia». Participa-me que estava junto de Luciano quando este recebeu a minha carta de há dias e que, apesar de não ter podido alongar o mais rápido golpe de vista sobre o conteudo dessa carta, compreendeu, pela evidente alegria, pelo claro desvanecimento de Luciano ao lê-la, que naquelas seis paginas compactas não poderia haver só palavras de simples amizade.

Nestas linhas agressivas e iniquas que estão na minha frente, Gilberto pôz inteiramente de parte o seu costumado tom irónico. «A senhora não tem consciencia — escreve — ou, se a tem, está desfeita em não sei quantos pedaços... Soube iludir as minhas primitivas desconfianças, que eram, apesar de tudo o que então me disse, absolutamente justificadas; engana, sem remorsos, um homem que a adora e, provavelmente, vangloria-se de ter á sua escolha e conforme o

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