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Diana de Liz: Memorias


largavam o livro de contos maravilhosos ou a boneca de olhos de esmalte e cabelos de estopa que sustinham, numa abstracção completa de tudo quanto não fosse aquela musica enervante. Um dia, depois de a têr ouvido, abri um volume de versos escolhidos, que os meus olhos infantis percorreram, curiosos. Li um pouco mais de metade de «A andorinha ferida», de Julio Diniz, e fui convulsionada por um ataque de chôro. Só a mademoiselle conseguiu aquietar-me, acariciando-me e afirmando-me que os queixumes — expressos em verso-da pobre avezinha, não passavam duma fantasia de poeta e que, por consequencia, il ne fallait pas y songer...

E, há cerca de duas horas, escutando mais uma vez esse impromptu, com a dupla recordação de Gilberto e Luciano fixa no espirito e perto de mim o sussurro duma conversação banal, a custo dissimulel as minhas lágrimas rebeldes...

Quinta-feira, 25

Como em todas as minhos crises de desalento, o instinto leva-me a recorrer ao afecto de Luciano. Apesar dos momentos dificeis, dos relampagos de febre que perturbam sempre toda a amisade amorosa, que preciosas consolações tenho colhido na inteligencia calma e nobre daquele excelente amigo!

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