Graças a esta privança, optima camaradagem e intimi¬ dade fraternal, fui eu o primeiro a ler em S. Paulo a Cha- naan, de Graça Aranha, enviada pelo Joaquim Nabuco. E então as horas passavam ligeiras, pois o Domingos Ribeiro era uma chronica viva. Que memória admiravel e que amor ás cousas patrias e aos grandes homens do nosso paiz ! Só havia uma noticia que acabrunhava o meu inolvidável amigo: era a que lhe transmittia o compadre Dantas sobre o seu sertão da Parahyba, nas vizinhanças do nosso Recife. Livre pensador até uns quinze ou vinte annos passados, abandonou tal modo de pensar, dedicando-se inteiramente ao Christianis- mo; irmão do Carmo, tomava completamente a serio todos os seus deveres e era um encanto ouvil-o mostrar as bellezas do culto e o bem estar e elevação de sentimentos nascidos do cumprimento de taes deveres. E então citava a Passala- qua factos da vida de D. Luiz dos Santos, o bispo do Ceara e arcebispo da Bahia; de D. João Esberard; de D. Jeronymo Thomé; do cardeal Arco-Verde; e de quanto padre e frade notável houve por este nosso norte e pelo sul do paiz. Con¬ versava sobre magistrados, engenheiros, politicos e tutti quanti com muito critério e uma verve inexgottavel. Depois, ou nos jantares de anniversario, ou nas modestas ceias, ao lado dos amigos, em numero pequeno, mas infallivel, era o visivel e manifesto prazer da vida da familia, que o Desembargador Domingos Ribeiro cultivava com requintes de enthusiasta, com um «savoir faire» de mestre competentíssimo. Para conseguir naturalmente aquellas tão bôas e sãs reuniões, era-lhe poderoso auxilio, senão encantador incentivo a sua respeitabilissima e santa senhora. Que alma angélica e pura a de D.a Carlota Inglez de Souza Ribeiro e que coração nobilíssimo e bem formado!... Comprehende-o bem quem avalia quanto é grato, consolador e bom ter-se ao lado da esposa e das filhas um anjo de bondade e de pureza. Eu vi hontem, em S. Benedicto, meu Domingos Ribeiro, pintadas, no semblante de todos os amigos alli oresentes ou representados, a dôr e o pezar sincero pelo desapparecimento daquelie privilegiado casal, que tanto nos amou e tanto bem 215 Digitized by Google Original from UNIVERSITY OF CALIFÓRNIA