nos com pontas de alfinetes, que podem entrar no coração? O senhor tem alguma coisa que o aflige e que eu ignoro. Fale!
Emília deu à sua voz uma terna inflexão para pronunciar estas últimas palavras:
— Se eu o ofendi, Augusto, acuse-me! Não será a primeira vez que lhe peça perdão!
Eu sentia, aos sons maviosos dessa voz celeste, meu coração hirto embrandecer-se como uma cera; mas de repente o toque do papel que eu tinha no bolso o enregelou.
— Não posso falar aqui — respondi trêmulo. — Não estamos sós.
— Pois amanhã — me disse Emília. — Às sete horas, junto aos bambus.
Estimei essa demora; naquele momento, tão próximo ainda da amarga decepção, sentia que não poderia ter a dignidade da minha dor.
Ao nascer do sol, já eu esperava Emília.
Que longa noite!
Sofria horrivelmente, mas como um enfermo desacordado. O estupor do espírito, que me fulminou ouvindo a cruel revelação, continuava. Não podia compreender Emília, o anjo do celeste pudor, a altiva rainha das minhas adorações, transformada de súbito numa desprezível namoradeira de sala.