Emília sorrindo. — Eu digo, prima, que isso de gratidão não é um sentimento nobre e elevado; pelo menos eu nunca desejaria inspirá-lo a alguém!
— Por que razão, prima?
— Pois não, Julinha! Pode haver nada menos generoso e mais ridículo do que um indivíduo, porque prestou um serviço, mesmo que salvasse a vida a alguém... arrogar-se uma certa superioridade sobre o outro e julgar-se com direito a tudo... à estima e à amizade de uma pessoa?... Não é uma espécie de humilhação que se impõe àqueles que não pediram, nem desejavam seus favores, e talvez os podiam pagar?
Emília falava com uma natural volubilidade, como se estivera conversando de coisas indiferentes. Seu lábio desfolhava, de envolta com as palavras, breves e finos sorrisos, que eram como os espíritos maus de suas palavras. Eu a escutava de parte, sentindo os dardos do escárnio que ela me atirava de revés. De repente, vi passar-lhe pelos olhos vivo e súbito lampejo.
— E alguns há desses generosos — continuou ela — que não perdem ocasião de lembrar o beneficio feito, com receio de que o possam esquecer! Se não é uma infelicidade, parece uma...
Eu vi clara e distinta a palavra especulação na boca de Emília; e estava de pé, alheio de mim, antes que ela a pronunciasse. Que ia eu fazer? Que podia eu, contra o insulto de uma mulher, e ali no meio de uma sala? Nada. Erguera-me por esse movimento involuntário e misterioso