De repente voltou-se:

— O senhor me julga muito ingrata?

— Eu, D. Emília?

— Oh! Não negue! Eu sinto!... Pois enganou-se! O que eu sou... Talvez não lhe saiba dizer...

Ela abaixou os olhos para os borbotões de espuma que se esfrolavam a seus pés.

— Sou... um espírito que duvida, um coração que vacila!

Eu não compreendia; estava surpreso.

— Esta gratidão que eu lhe consagro há três anos — continuou ela — tem sido a minha única alegria!

— Como é possível, D. Emília? Não acredito!...

— Pois creia! Tenho uma testemunha...

— Qual?

— Conhece?...

— A minha carta!...

Ela passara rápida pelos meus olhos a carta que eu tinha escrito ao pai logo depois do seu restabelecimento.

— Está assim amarrotada... Não sabe por quê? É ela que envolve os cabelos de minha mãe!

Emudecemos ambos. O papel desapareceu outra vez; tinha-o escondido no seio. Passado um instante Emília falou de novo, mas absorta, como se falara consigo mesma num recolho íntimo:

— Não acredito no amor!... Alguma coisa me diz que não amarei nunca!... Entretanto o coração