DOM JOAO VI NO BRAZIL 189

nao era o unico a assim pensar, contava o rabujento archi- vista uma engragada anecdota passada com D. Francisco d Almeida. Perguntando o Principe Regente a esse fidalgo recem-chegado a corte que tal achava o paiz, respondeu elle com o maior desembarago : Senhor, eu sempre ouvi dizer aos papagaios d America - - Papagaio real. . . para Portugal - - . Palavras estas, commenta Marrocos, que tern feito descar- regar uma grossa chuva das mais horrorosas pragas dos Bra- zileiros e Brazileiras sem esperanca de armisticio."

A impaciencia do regresso dava frenesis a esses emi- grados postigos, e de azedume os roera desde que tinham posto pe em terra. Como a Rainha doida, elles viviam men- talmente em Lisboa e em Queluz. Comtudo, sendo pre- ciso dotar o acampamento com ares de corte, mesmo porque ninguem podia de seguro prever o tempo que duraria a ty- rannia do Corso sobre a Europa, trataram os nobres de mi- tigar as suas saudades refazendo em tudo e por tudo a capi tal desertada, transformando o Rio n uma copia, por mais Jmperfeita que sempre a achassem, da querida Lisboa. A ad- ministragao, por motivos menos pessoaes e mais elevados, Ihes secundou o intento ao applicar os pianos que trazia nas suas pastas. As mesmas repartigoes portuguezas superiores foram estabelecidas no Brazil, com o mesmo espirito de rotina bu- rocratica e o mesmo pessoal indolente e cupido, erguendo porem a colonia da sua postura de dependencia e dando-lhe foros de soberania. As mesmas instituigoes judiciarias, milita- res, escolares, foram creadas, com as mesmas falhas e vicios, mas com effeitos salutares sobre a economia moral de um paiz segregado ate entao de tudo quanto importava em autonomia intellectual e personalidade juridica interna- cional.

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