DOM JOAO VI NO BRAZIL 289
largas ao seu odio conjugal e tentar mesmo despojal-o do throno. Quern tiver presente o episodic de 1805 e se recor- dar de que, depois do regresso para Lisboa, foi a Rainha a alma damnada das conjuragoes absolutistas contra Dom Joao VI, nao podera alcunhar de vaos e chimericos os temo- res entao alimentados pelo Principe Regente.
Dom Joao tinha pois razoes para saber quern era a esposa, e esta par seu lado conhecia admiravelmente o ma- rido que enganava. Bern conscia era do quao irresolute e ma- treiro tinha o animo: na pittoresca expressao de uma carta d ella a Presas, el principe en estos negocios tiene dos caras." Dom Joao costumava reflectir tanto, pesar tao minu- ciosamente os pros e os contras das suas resolugoes, que a vontade acabava muitas vezes por deixar de servir-lhe os pianos. Era porem um Hamlet doseado de I ago, tragedia e ferocidade a parte. E provavel que si Dona Carlota alcan- gasse sentar-se no throno da America Hespanhola, a ambi- gao e o resentimento a levariam a procurar governar tam- bem a America Portugueza; mas nao e menos provavel que o Principe, ainda que desilludido de um primeiro ensaio tentado de afogadilho por Linhares, entrasse a entrever a possibilidade de definitivamente arredondar os seus domi- nios patrimoniaes, aproveitando a confusao e o esphacelo do imperio hespanhol. Buenos Ayres, no alvor da sua inde- pendencia, albergou tanto um emissario de Napoleao a Li- niers no intuito de obter a submissao do vice-reinado do Prata a dynastia franceza, como um enviado de confianca mandado pelo Regente de Portugal a estudar em seu dissi- mulado beneficio a situacao politica vigente.
De facto, sem que Dona Carlota d isso tivesse conhe- cimento, mandou Dom Joao em 1809 ao Rio da Prata,
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