DOM JOAO VI NO BRAZIL 971
mas nada se comparava, pelo encanto na uniao do mystico e do profano, aquelle beija-pe da segunda sexta-feira da qua- resma. Sobresahiam na multidao as mulheres. Velhas e mo- cas, fidalgas, burguezas, mucamas e prostitutas, todas cor- riam a prosternar-se na capella e todas faziam alarde de garridice igual : as prostitutas de corpetes de sedas vivas, saias de cambraia da India ou de renda sobre um fundo de seda, meias de seda branca e sapatos de cores variadas. Ao sahir para refazer em sentido in verso o trajecto da noite an terior, ia o andor rodeado de lanternas de metal dourado na ponta de longas hastes, levadas por pessoas de distincgao, e guardado por archeiros do Paco com suas alabardas e no seu uniforme peculiar, ainda hoje usado pelos de Portugal.
Na procissao do Triumpho figuravam todos os passos da Paixao de Christo, e Nossa Senhora das Dores com o co- racao golpeado por sete espadas gottej antes de sangue. Na do Enterro misturavam-se penitentes sombrios, de capuz cobrindo toda a cara, apenas com orificios nos lugares dos olhos, e soldados romanos armados de ponto em branco, sob o commando de um centuriao de capacete descommunal. O corpo de Jesus, coberto por um lengol franjado de ouro, era seguido de uma Magdalena de carne e osso, representada, em homenagem por certo a moral, por um mancebo vestido de mulher.
A procissao do Corpo de Deus, bem viva ainda na lem- braiiQa popular, assemelhava-se sem tirar nem por a uma mascarada, comprehendendo Sao Jorge a cavallo, o homem de ferro, picadores e cavallos ricamente ajaezados da Real Casa, musicos negros de vestes escarlates, atiradores de fo- guetes : uma palheta de cores oppostas nas pelles e nos esto- fos, uma galeria de trajos de estylos e feitios os mais diversos,
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