como esses pastores vestidos de um farrapo de purpura, que nos quadros do seculo XVII ornam as paizagens ideaes.

O que essa humanidade de provincia faz, diz, soffre ou goza — é-lhe indifferente. Não é a ella que vae vêr, se visita os logares que ella habita: o que lá lhe move a curiosidade apressada, é algum monumento, algum panorama — a paizagem, como diz Lord Beaconsfield. Para o estrangeiro, Portugal é Cintra, a Allemanha é o Rheno: até mesmo na ideia de Lord Byron, e de outros depois d’elle, o que estraga a belleza de Lisboa é a presença do lisboeta — como a mim o que me estraga a Allemanha é a presença do prussiano. Positivamente a multidão só reconhece uma sociedade — a de Pariz e de Londres.

Mas, dentro em pouco, nem ruinas, nem monumentos haverá dignos de viagem; cada cidade, cada nação, se está esforçando por aniquilar a sua originalidade tradicional, e nas maneiras e nos edificios, desde os regulamentos de policia até á vitrine dos joalheiros, dar-se a linha parisiense. No Cairo, cidade dos califas, ha copias do Mabille, e os Ulemas esquecem as metaphoras gentis dos poetas persas, para repetir os ditos do Figaro; o primeiro som que ouvi ao penetrar as muralhas de Jerusalem foi o can-can de Bella Helena, e sahiu da habitação de um rabbi, de um doutor da lei santa; nas margens do Jordão, sobre a areia dourada, que os pés de Jesus pisaram, achei dous velhos collarinhos de papel, modelo Smith: bem sei que