N’um crime como o de Vaillant entram, em resumo, tres impulsos ou motivos determinantes. Primeiramente ha um desejo de vingança, todo pessoal, por miserias longamente padecidas na obscuridade e na indigencia. Ha depois o appetite morbido da celebridade — como o prova o facto de Vaillant, nas vesperas de lançar a bomba, se ter photographado, n’uma attitude arrogante, voltado para a posteridade. E emfim ha o proposito de applicar a doutrina da seita, que, tendo condemnado a sociedade burgueza e capitalista, como unico impedimento á definitiva felicidade dos proletarios, decretou a destruição d’essa sociedade. Só este lado sectario do crime particularmente nos interessa quanto á sua inutilidade. (Porque, pelos outros dous lados, o acto não foi inutil, visto ter Vaillant realisado a sua vingança e alcançado a sua celebridade).

Aqui temos pois Vaillant, como anarchista, com a sua bomba na mão, preparado a demolir, para vantagem do proletariado opprimido, um bocado da sociedade que o opprime, alguns dos seus membros mais activos e potentes, e portanto, para elle, mais oppressores. Lança a sua bomba — e supponhamos que, causando um maximo inverosimil de destruição, ella mata os seis ministros, aniquila os quinhentos deputados, e arrasa o edificio do parlamento! Que succederia? Que vantagens traria este feito estupendo ao proletariado escravisado, e que prejuizos causaria á sociedade escravisadora? Primeiramente espalhar-se-ia por toda