realidades dolorosas e de uma experiencia constante das miserias servis. Pense-se o que será (quando um Vaillant é guilhotinado) uma reunião secreta de anarchistas, dos verdadeiros, os puros, d’esses milhares de operarios de coração generoso e exaltado, para quem o anarchismo é a verdadeira redempção da humanidade, e que admiram no homem que se sacrificou por essa ideia santa um martyr do amor dos homens! O jury só viu o bruto que quiz matar: elles só veem o justo que quiz libertar. N’uma tal reunião, onde cada um traz a sua colera e a sua maldição, é inevitavel que alguma alma mais violenta se inflamme, appeteça tambem o martyrio, e corra d’alli a fabricar a nova bomba, que na sua illusão quasi mystica concorrerá a remir o proletariado. Aquelles que não podem morrer pela causa querem ao menos soffrer de algum modo por ella, e pela sua justiça. Entre os anarchistas presos recentemente havia um que se fizera gerente responsavel de um jornal anarchista, só para ter gloria, o prazer espiritual de soffrer os mezes de prisão em que os redactores incorressem pela violencia das suas imprecações. Por isso o anarchismo, como a primitiva seita christã, tem já os seus «Actos dos Martyres». A vida e supplicio de Ravachol andam escriptos, e são meditados como mais puro exemplo da fé e da confissão anarchista. Todos os objectos que pertenceram a Ravachol ganharam o caracter augusto de reliquias. Ha um cantico a Ravachol — a Ravachole. E cada coração anarchista lhe é um altar.