de evidencia, nós passamos o nosso bemdito dia a promulgar sentenças e a lavrar diplomas. Não ha facto, acção individual ou collectiva, personalidade ou obra humana, sobre que não estejamos promptos, apenas ellas nos sejam apresentadas, a formular muito d’alto uma opinião cathedratica.

E a opinião tem sempre e apenas por base aquelle pequenino lado do facto, da acção, do homem, da obra, que apparece, n’um relance, ante os nossos olhos fugidios e apressados. Por um gesto julgamos um caracter, por um caracter avaliamos um povo. A antiga anecdota d’aquelle inglez funambulesco que, desembarcando em Calais de madrugada, e avistando um coxo no caes, escreve no seu livro de notas: «A França é habitada por homens côxos» — illustra e symbolisa ainda hoje a formação das nossas opiniões.

E quem nos tem enraizado estes habitos levianos? O jornal, que offerece cada manhã, desde a chronica até aos annuncios, uma massa espumante de juizos ligeiros, improvisados na vespera, das onze á meia noite, entre o silvar do gaz e o fervilhar das chalaças, por excellentes rapazes que entram á pressa na redacção, agarram uma tira de papel, e, sem tirar mesmo o chapéo, decidem com dous rabiscos de penna, indifferentemente sobre uma crise do Estado, ou sobre o merito de um vaudeville. Como exemplo picante, eu poderia citar o modo por que a imprensa de Pariz tem commentado a revolta do Brazil e julgado o povo do Brazil, sobre vagos bocados de telegrammas truncados