Particularmente, era o mais excellente dos homens — affavel, caritativo, leal, clemente, cultivado.

A multidão que o via sempre tão teso, mettido n’uma casaca que parecia de ferro, com a barba muito negra e dura, a barra vermelha da Legião de Honra destacando sem um vinco no peitilho rigido, tendia a pensar que tudo, no homem interior, era tambem secco, rigido, duro.

A multidão enganava-se redondamente. Carnot era um brando, quasi um sentimental.

Ha assim d’estas figuras de madeira, que vivem por dentro de uma vida ignorada, que é cheia de sensibilidade e de calor affectivo.

Um jornal que sempre incondicionalmente o honrou, e que costuma pôr nas suas palavras uma sisudez ponderosa, e mesmo solemne, o Temps, resume o elogio funebre de Carnot affirmando que elle era un brave homme. A expressão assim, isolada, póde parecer familiar, talvez rasteira, mesmo laivada de vago desdem. Mas, quando junta a todas as outras que definem o seu caracter publico, logo se sente que esta as completa, as embelleza, e espalha sobre ellas como um indefinido perfume de bondade e doçura, sem as quaes nunca ha verdadeira superioridade moral. E Carnot, elle proprio, na lista extensa das suas virtudes intimas e civicas, apreciaria, mais que todas, esta, que tem um feitio tão simples, de brave homme. Na sua vida, na sua alta magistratura, foi sempre um brave homme.