pavor o nosso pobre cerebro; e á maneira de touros que se precipitam dentro d’um templo, põem a quieta assembléa das nossas ideias em confusão e terror. Uma tarde d’esta semana, nos boulevards, um jornal astuto e videiro, a Cocarde, appareceu ostentando na sua primeira pagina, larga como uma pagina da Gazeta, estas duas linhas unicas, n’um typo despropositado, sem precedentes, que se avistava a uma milha: — «O embaixador de França foi assassinado em Roma!» — Vi mulheres, ao receberem nos olhos desprevenidos este tremendo berro typographico, quasi desmaiarem: e por onde passavam os vendedores, agitando o cartaz pavoroso, a multidão redemoinhava, como sob um grande vento de medo e colera!

Assim, durante a longa semana, andou vehementemente sacudida a nossa imaginação.

De resto a tragedia de Lyão era bem propria a agitar as imaginações mais ronceiras e dormentes. Raramente o destino ou o acaso (se é que o destino se conservou indifferente) envolveu um regicidio em scenario mais commovente, de contrastes mais patheticos, accumulando n’elle uma tal profusão de detalhes horriveis na sua trivialidade, e quasi medonhamente grotescos através do seu horror. Essa noite parece composta por Shakespeare e retocada aqui e além, depois, por Hoffmann. Quem jámais a saberá e a contará em toda a sua miuda realidade? E que contraste intenso já, em que o mais doce e ordeiro dos homens assim findasse na mais cruenta e atabalhoada das tragedias!