capella ardente, e depois, quando não faltasse uma colgadura nem um tocheiro, abertas as portas, e com a sumptuosidade que lhe competia, receber as supremas honras funeraes. Atraz d’elle, pelas ruas desertas, (segundo contam) só o acompanhou um fiacre, com vadios e mulheres nocturnas, fumando cigarros, de perna estendida. Estranho remate de uma noitada estroina — seguir n’um fiacre o cadaver d’um chefe de Estado!

Ao outro dia, porém, com a luz, começaram a pompa e o luto publico. Mas então cessam tambem os lances inesperados e melodramaticos. Tudo se torna regular, fixo e pautado pelo protocollo. Hoje Pariz desfila, com curiosidade e emoção, ante o ataúde do presidente, posto em capella, no devido luxo de flôres e de luzes, coberto com a tricolor. Amanhã Pariz, n’uma curiosidade crescente, mas já dimiunida a emoção, fará densas alas ao presidente que passa para o Pantheon.

Funeraes magnificos, de certo — mas de uma magnificencia muito cerceada pela sobriedade do gosto francez e pela simplicidade official da democracia. A democracia officialmente, usa casaca de panno preto: — e o severo gosto, em França, não permitte n’estas pompas outro luxo, além do luxo das flôres. Tudo o que outr’ora na antiguidade, e depois na Renascença, fazia o esplendor das ceremonias funebres — a sumptuosidade dos trajes, as sêdas negras cahindo dos balcões, os incensadores fumegando, os coros dolentes,