presa. Mas isso mesmo fazem todos os peixes, no mar e em Pariz.

Os tubarões, porém, e é essa a sua feição caracteristica, engolem indifferentemente e com egual appetite uma velha garrafa vazia, ou uma gorda e succulenta pescada; e estes tubarões de Pariz, de que falla Balzac, escolhem com cuidado a presa, e só arremettem contra ella, quando ella é tão succulenta e gorda como Buloz.

O caso, tal como transparece, atravez de tantas versões e mesmo de tantas ficções, é lamentavel. Buloz ha annos, no meio do caminho da sua vida (como diz o Dante, que tinha um modo incomparavelmente magnifico de contar estes casos) encontrou uma rapariga. Não era uma Beatriz, mas uma fulana qualquer, que nem ao menos tinha belleza justificativa. Mas, quando se tem vivido, durante vinte annos, dentro da Revista dos Dous Mundos, toda a face moça, com um pouco de lume no olho, parece uma visão de alto esplendor. Buloz, apesar de director de revista, era homem e sensivel. Teve n’uma hora nefasta (talvez entre dous artigos de Charles de Mazade!) uma d’aquellas tentações que, a acreditarmos Santo Agostinho, nenhuma alma, nem mesmo robustecida na constante convivencia dos Broglie e dos Remusat, evita ou vence.

Buloz cedeu — ou, antes, a rapariga cedeu. (E o ingrato Buloz agora pretende, em confidencias que fez a um reporter do Gaulois, que «foi uma semsaboria».)