O gênio faceiro e jovial de Amália mudou completamente. A moça tornou-se pensativa: tinha longas horas de cisma e melancolia, ela que dantes não sabia senão rir e brincar.

Algumas vezes já se esquivava de freqüentar a sociedade, que até então fora para ela uma necessidade. Inventava pretextos para recusar os convites; e ficava-se em casa solitária, distraída, absorta em vagas contemplações.

Passava noites inteiras recostada à sua janela com os olhos fitos, o seio palpitante, tão alheia de si que não ouvia a voz da mãe a chamá-la, e tão presente aos seus pensamentos que estremecia e sobressaltava-se a cada instante, sem causa aparente.

Outras vezes saía ao jardim, e vagava pelos passeios talhados na relva, a desfolhar as flores que sua mão distraída ia colhendo, e a arrular palavras submissas que, pela cadência da voz melodiosa, pareciam trechos de poesia.

Amália admirava outrora as estrelas como umas jóias mimosas de que Deus havia recamado