22
ENEIDA. — LIVRO I.

Do negro rei do eôo a turma e as armas
A'testa de milhares de Amazonas
Com lunados broquéis, Penthesiléa
Se abraza em furia, bellicosa atando
520Sob a despida mama um cinto de ouro,
E virgem com varões brigar se atreve.

Quando extatico o heroe se embebe e enleia,
Ao templo a formosissima raínha
Marcha, de jovens com loução cortejo.
525Qual nas ribas do Eurotas ou do Cyntho
Pelos serros Diana exerce os coros,
E, de infindas Oreadas seguida,
Carcaz ao hombro, em garbo as sobreleva;
Rega-se em gôzo tacito Latona:
530Tal era Dido, airosa e prazenteira,
Do seu reino a grandeza apressurando.
No adyto sacro, em meio do zimborio,
De armas cercada, em solio majestoso
Senta-se. Os pleitos julga e leis prescreve,
535Regra ou sortêa os publicos trabalhos.

Subito Enéas no tropel devisa
A Cloantho brioso, Antheu, Sergesto,
E os mais que atra borrasca a longes costas
Remessara dispersos. Elle e Achates
540Varados ficam de alegria e susto,
Avidos ardem por travar as dextras;
Fôrça ignota os perturba. Dissimulam;
Qual a sorte dos seus do encêrro espreitam
Nebuloso, e onde surta a frota seja,
545E com que fim das naus os mais conspicuos
Clamando, a pedir venia, ao templo acodem.

Introduzidos, quando a vez tiveram,
Rompe o idoso Ilioneu, facundo e grave:
«Raínha, ó tu que por favor supremo
550Ergues nova cidade, e justa enfreias