Se irrita a colera, a possante espada
No moço enterra; a ponta a leve adarga
E a tunica passou, que a mãe fiara
De ouro subtil; em borbotões o sangue
805Alaga o seio; e a vida pelas auras
Triste aos manes se afunda e o corpo larga.
Pallida a face, moribundo o gesto
Ao vêr-lhe o Anchíseo, compassivo e grave
Suspira, dá-lhe a dextra; á mente a imagem
810Sobe do patrio amor: «Que digno premio
Dessa rara virtude o pio Enéas
Te prestará, mesquinho? As armas tenhas,
Teu gôsto em vida: eu rendo-te ao jazigo
E ás cinzas dos avós, se disto curas.
815Console-te infeliz do grande Enéas
Ás mãos cahir.» E exprobra os tardos socios,
Do chão levanta o corpo, cujas tranças
Atiladas á moda o sangue afeia.
Mezencio, ao pé do Tibre, emtanto os golpes
820Lava e estanca, e arrimado se conforta
A arboreo tronco: ao longe está n’um ramo
O eneo casco, e na relva o arnez pesado.
Egro, anhelante, o colo desafoga,
Aos peitos se diffunde a larga barba.
825Cercam-no os seus: do filho indaga afflicto,
Manda que o chamem e amiuda as ordens.
Mas sôbre o escudo em pranto já traziam
Morto do grande bote o grande Lauso:
O pae nesse carpir seu mal pressente:
830De pó deforma as cãs, e as palmas ambas
Dirige aos céos, e apega-se ao cadaver:
«Quiz tanto á vida, ó filho, que ao trespasso
Expuz a quem gerei? Por tua morte
Vive teu pae, salvou-me essa ferida?
835A minha agora se me aggrava e sangra,