680. — 678. — Deste passo em diante entra Mezencio com seu filho. Turno, tendo matado a Pallante, havia desapparecido por industria de Juturna; a qual, para o subtrahir ao braço do Troiano, o fez correr após a figura delle até chegar a uma nau onde o phantasma se havia refugiado, e nessa nau o transportou a Ardea. Remoto o general dos Rutulos, o substitue Mezencio; e, depois de assinalar-se com prodigios de valor, veio ás mãos com Enéas. Este o ia immolar, quando o brioso Lauso apara o golpe, o ataca, e morre víctima da piedade filial, não querendo ouvir os avisos do mesmo Enéas, que o mata com pezar. O que sabido por Mezencio, veio de novo encontrar-se com o vencedor de Lauso, e acaba tambem. Este pedaço he um dos melhores que a poesia antiga e moderna tem creado; mas o Troiano he arguido de contradictorio, porque, sendo pio, não lhe cabia dizer cousas picantes a Mezencio. Note-se porêm que Enéas só se mostra inexoravel desde a morte de Pallante; Pallante, que lhe fôra confiado por Evandro, a quem o heroe devia a alliança de Tárchon e os meios de conseguir a empresa; por Evandro, que tinha sido o hóspede e amigo de Anchises. A colera, tam natural em taes casos, he desculpavel; e o poeta deu mais uma prova de sabedoria no escolher o momento, sem faltar á verosimilhança, de attribuir ao seu Enéas a impetuosidade e furor de Achilles. Para gozar do titulo de pio, no sentido de certos criticos, seria necessario que se deixasse immolar, ou apenas se defendesse daquelles que procuravam arrancar-lhe a vida! Qual he o homem, por mais pio e humano, que algumas vezes não tenha rompido em amargas invectivas? Sendo Mezencio um formidavel campeão, que mesmo ferido pelejava galhardamente, e queria ou morrer ou matar, he bem natural que Enéas o mandasse adiante; o que tanto menos lhe devia custar, quanto mais odioso era o tyranno aos Tyrrhenos, seus alliados.