do mesmo pensamento no verso de Petrarca: «Ahi! null’altro che pianto al mondo dura.» Sam os melhores commentadores de Virgilio, em primeiro lugar Virgilio mesmo, sendo bem estudado, e em segundo lugar os verdadeiros poetas que o sentiram e imitaram.

588. — 613. — M. Villenave censura a Delille, Binet, de Guerle, por terem referido unus abest a socios, e não ao navio. A construção da phrase, como elle confessa, a tal opinião os levou, e muito bem, porque o masculino unus não pode concordar com classem, nem com navem que se subentenda. Verdade he que não foi só Oronte que pereceu, foi conjuntamente a nau; o que não obsta a que unus se refira ao commandante. Sendo vista aquella desgraça por Achates e Enéas, basta que se falle do commandante para, por associação de idéas, vir á memoria a nau. Quanto á fidelidade, vale tanto uma como a outra cousa; poisque a subversão da nau lembra a de Oronte, e vice versa.

634. — 661-662. — Pondera Chateaubriand, no Genio do christianismo, que Virgilio amava exprimir-se negativamente, o que concorre para a melancolia dos seus versos; cuida que esta maneira lhe nasceu dos desgostos que o poeta provavelmente experimentou em seus amores. Fóra a conjectura, fica-nos a observação verdadeira de que elle emprega frequentes negativas, o que augmenta a melancolia que inspiram suas obras. Não direi que o traductor infallivelmente verta essas negativas; sim que em geral o deve de fazer, a fim de conservar mais uma propriedade do seu estilo divino, como lhe chama o mesmo Chateaubriand. Neste non ignara[1] mali a negativa por certo vem muito a proposito. Nem Delille, nem o Snr. Lima Leitão que o imitou, João Franco, nem o Snr. João Gualberto, nem algum dos outros que consultei, fizeram caso desta particularidade; exceptos Iriarte e Mr. Villenave. Mais ainda me agrada a traducção do último; porque o Hespanhol põe no plural disgracias, e o Francez emprega o singular malheur: postoque o verso do poeta contenha uma maxima geral, Dido não a proferiu como tal; no mali especialmente allude ao exilio da patria, no que o seu fado assemelha o de Enéas.

693-698. — 721-726. — Para doçura e harmonia, aqui se empregam líquidas e vogaes: a nossa lingua poude em versos iguaes traduzir essas bellezas, o que talvez não consiga outra alguma das vivas da Europa; ao menos ainda não o fizeram as duas mais suaves, a hespanhola e a italiana.

703-710. — 729-738. — Julga Delille que o banquete poderia ser descripto com mais imaginação e poesia, e não nos diz o como; accusa o poeta de nimia sobriedade, e affirma que o festim cessou

  1. No original, ignora.