Sacudo o somno, ao pincaro da tôrre
Trepo, ouvidos apuro. Tal, se a queima
Soprando o bravo sul cahe na seara;
Tal, se grossa torrente despenhada
315Arrasa o campo e as ledas sementeiras,
Prostra o lavor dos bois, aluídas selvas
Arrebatando; lá do saxeo cume
Pasma nescio o pastor que o ruído escuta.
Eil-a a fé grega manifesta, e nua
320A traição: de Vulcano ao vivo impulso
A ampla casa a Deiphóbo já desaba;
Já proximo arde Ucalegon; ao largo
Nos fretos do Sigeu reluz a flamma:
Clangor de tubas e alaridos soam.
325Das armas ferro, desatino, e em armas
Doudo onde vá não sei; mas na ancia fervo
De soccorrer com gente a fortaleza:
A ira me precipita; e quanto he bello
O morrer pelejando á mente occorre.
330Eis Pantho escapo d’entre achivas lanças,
Pantho, filho de Otreu, de Phebo antiste,
Com sacro espólio, com vencidos numes,
Do alcaçar pela mão traz um netinho,
Fóra de si vem vindo á estancia minha.
335«Ah! Pantho, que he da patria? onde o conflicto?
A que posto acudir?» E elle em soluços:
«O termo veio, o ineluctavel dia;
Já fomos, Troia foi-se e a gloria sua:
A Argos transferiu tudo o fero Jove;
340Na cidade combusta a Grecia impera.
Assuberbando a praça, o monstro equino
Batalhões verte; e ufano atêa incendios
O insultante Sinon: da gran’ Mycenas
Quantos jamais vieram, se apinhoam
345Nas bipatentes portas, e aos milhares