Eis ferido, entre lanças, entre imigos,
Por atrios longos, porticos desertos,
Gyra: de golpe feito, o acossa, o apanha
Já já Pyrrho feroz, de um bote o aterra:
560Ao tempo que ante os paes ia chegando
Baquêa, e dessangrado a vida exhala.
A sua o rei sentiu no extremo fio,
Mas reprimir não poude a voz e a ira:
«Pelo attentado, exclama, e audacia tanta,
565Se ha no céo providencia e piedade,
Pague-te o céo com merecido premio,
A ti que o matas ás paternas barbas,
E estas cãs me funestas e enxovalhas!
Não, tal não se houve Achilles, meu contrario,
570De quem te finges prole: ao supplicar-lhe
Enrubeceu, direito e fé guardou-me;
Sepultar permittiu-me Heitor exsangue,
Revêr meus reinos.» Dice, e arroja o velho
Dardo imbelle sem gume, que repulso
575Pelo rouco metal, á superficie
Do embigo do broquel frustrado pende.

«Pois vai contal-o ao genitor Pelides;
Nuncio narrar te lembre estas baixezas,
E o quanto o degenero. He tempo, morre.»
580Fallando Neoptolemo o arrasta ás aras
Tremebundo, e do filho em quente sangue
A resvalar: na esquerda a coma enleia;
Com a dextra saca a lamina fulgente,
No vasio lh’a embebe até aos copos.
585De Priamo este o fado, assim finou-se
Troia arder vendo e Pergamo assolar-se:
Quem d’Asia em povos cem reinou suberbo
He cadaver; na praia o tronco informe
Jaz sem nome, e a cabeça decepada.

590Pasmei de horror, confesso: o pae querido,