Cobertos de arvoredo e escura sombra,
N’ara o fogo outravez e as mesas pomos:
De outro escondrijo lobrego, estrondando,
Revoa a turba em roda, e as iguarias
245Pollúe com bôca impura e tortas unhas.
Arma, arma, á dira gente eis guerra intímo.
Dito e feito; escondemos sob a relva
Prestes gladios e escudos. Mal deslisam
Por curvas praias a grasnar, Miseno,
250Que do alto espreita, o cavo bronze entoa:
Tenta-se, estranho ataque! a ferro obscenas
Marinhas aves escalar; mas golpes
No dorso ou plumas nem lesão consentem,
E em fuga, alando-se ás estrellas, deixam
255A presa mossegada e infecto rasto.
N’um alcantil Celeno só pousando,
Rompe aziaga em taes vozes: «Guerra, em cima
De novilhos e bois nos estragardes!
Guerra e esbulhar quereis do patrio reino
260As insontes Harpyas! Pois ouvi-me,
Gravai n’alma o que a Phebo, ó Laomedoncios,
O summo rei predice, e a mim Apollo,
E eu raínha das furias vos declaro.
Italia demandais, á Italia os fados
265Com viração galerna ir vos concedem;
Mas antes que mureis o assento vosso,
Desta matança em pena, ha de obrigar-vos
Crua fome a roer as proprias mesas.»
Cala, e de surto á selva se recolhe.
270Gelido o sangue, esmorecemos todos.
Armas não mais; com votos paz rogamos,
Sejam déas, ou furias, torpes aves.
Da praia as mãos levanta, e os grandes numes
Com devida offerenda implora Anchises:
275«Deuses, fóra o ameaço, arrédo o agouro;