Essa outra vozeria maior e mais remota não caberia aqui, se não fosse a necessidade de explicar o gesto repentino com que Aires parou na calçada. Parou, tornou a si e continuou a andar com os olhos no chão e a alma em Caracas. Foi em Caracas, onde ele servira na qualidade de adido de legação. Estava em casa, de palestra com uma atriz da moda, pessoa chistosa e garrida. De repente, ouviram um clamor grande, vozes tumultuosas, vibrantes, crescentes...
— Que rumor é este, Cármen? perguntou ele entre duas carícias.
— Não se assuste, amigo meu; é o governo que cai.
— Mas eu ouço aclamações...
— Então é o governo que sobe. Não se assuste. Amanhã é tempo de ir cumprimentá-lo.
Aires deixou-se ir rio abaixo daquela memória velha, que lhe surdia agora do alarido de cinqüenta ou sessenta pessoas. Essa espécie de lembranças tinha mais efeito nele que outras. Recompôs a hora, o lugar