— Era capaz?

— Apostemos.

Flora, depois de um instante:

— Para que, se não há presidência?

— Suponha que há.

— É preciso supor muito, — que há presidência e que a província é a do Rio. Não, não há nada.

— Então suponha só metade, — que há presidência e que é Mato Grosso.

Flora teve um calafrio. Sem admitir a nomeação, tremeu ao nome da província. Pedro lembrou ainda o Amazonas, Pará, Piauí... Era o infinito, mormente se o pai fizesse boa administração, porque não voltaria tão cedo. Já agora a moça resistia menos, achava possível e abominável, mas dizia isto para si, dentro do coração. De repente, Pedro, quase estacando o passo:

— Se ele for, eu peço ao governo o lugar de secretário e vou também.

A luz intermitente das lojas, refletindo no rosto da moça, à medida que eles iam passando por elas, ajudava a dos lampiões da rua, e mostrava a emoção daquela promessa. Sentia-se que o coração de Flora devia estar batendo muito. Em breve, porém, começou ela a pensar em outra coisa. Natividade não consentiria nunca; depois, um estudante... Não podia ser. Pensou em algum escândalo. Que ele fugisse, embarcasse, fosse atrás dela...

Tudo isto era visto ou pensado em silêncio. Flora não se admirava de pensar tanto e tão atrevidamente; era como o peso do corpo, que não sentia: andava, pensava, como transpirava. Não calculou sequer o tempo que ia gastando em imaginar e desfazer idéias. Que isto lhe desse mais prazer que desprazer, é certo.