no ministério. Também lhe ensinava a enriquecer depressa; e ajudá-lo-ia começando por uma caderneta na Caixa Econômica, desde o dia em que nascesse até os vinte e um anos. Alguma vez, às noites, se estavam sós, Santos pegava de um lápis e desenhava a figura do filho, com bigodes, — ou então riscava uma menina vaporosa.
— Deixa, Agostinho, disse-lhe a mulher uma noite; você sempre há de ser criança.
E pouco depois, deu por si a desenhar de palavra a figura do filho ou filha, e ambos escolhiam a cor dos olhos, os cabelos, a tez, a estatura. Vês que também ela era criança. A maternidade tem dessas incoerências, a felicidade também, e por fim a esperança, que é a meninice do mundo.
A perfeição seria nascer um casal. Assim os desejos do pai e da mãe ficariam satisfeitos. Santos pensou em fazer sobre isso uma consulta espírita. Começava a ser iniciado nessa religião, e tinha a fé noviça e firme. Mas a mulher opôs-se; a consultar alguém, antes a cabocla do Castelo, a adivinha célebre do tempo, que descobria as coisas perdidas e predizia as futuras. Entretanto, recusava também, por desnecessário. A que vinha consultar sobre uma dúvida, que dali a meses estaria esclarecida? Santos achou, em relação à cabocla, que seria imitar as crendices da gente reles; mas a cunhada acudiu que não, e citou um caso recente de pessoa distinta, um juiz municipal, cuja nomeação foi anunciada pela cabocla.
— Talvez o ministro da Justiça goste da cabocla, explicou Santos.
As duas riram da graça, e assim se fechou uma vez o capítulo da adivinha, para se abrir mais tarde.