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Morrerei no desterro, em terra estranha,
— Que no Brasil só vis escravos medram —
Para mim o Brasil não é mais patria,
Pois faltou á justiça.

Valles e serras, altas mattas, rios,
Nunca mais vos verei — sonhei outr'ora,
Poderia entre vós morrer contente...
Mas não-monstros o vedam.

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De estranha emulação acceso o peito,
La me ia formando a phantasia
Projectos mil para vencer mil ocios,
Para crear prodigios!

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Doces visões, fugi! Ferinas almas
Querem que em França um desterrado morra!
Já vejo o genio da certeira morte
Ir afiando a foice!

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Que o Brazil inclemente ingrato ou fraco,
A's minhas cinzas um buraco negue
Talvez tempo virá, que ainda pranteie
Por mim com dôr pungente.

Exulta, velha Europa! O novo imperio,
Obra prima do ceo, por fado impio,
Não será mais o teu rival altivo
Em commercio e marinha.