prece à noite. Longe atroavam trovões soturnos e as frases amplas, de uma originalidade de natureza virgem, desdobravam-se, cresciam largas e a impressão que em meu espírito produziam era a de um coro de vozes doloridas que entoassem misteriosamente no espaço tenebroso.

Uivos do vento prolongavam-se pela noite, de instante a instante laivada por um golpe de luz. Súbito o músico paralisou-se, pôs-se de pé, nervoso, relanceando o olhar em torno.

— Que é? A chuva engrossava às ruflas nas folhas, às bátegas nos muros. Brandt chegou à janela, arredou o galho do jasmineiro, ia cerrar a persiana, mas deteve-se hesitante. De novo o galho solto meteu-se pelo aposento oscilando e o músico voltou ao harmonium.

— Porque não fechas a janela? Meneou com a cabeça negativamente e, através da música divina, disse como falando em sonho:

— Que importa! Foi, talvez, para adormecer que ela me mandou pedir que tocasse.