No brilho acerado dos espelhos havia, por vezes, obscurecimentos, brumas que o toldavam de passagem, logo, porém, a claridade reabria-se fulgente. Não era senão o reflexo do céu, ora fusco, ora aclarado pelo sol indeciso.

Atirei-me à cama prostrado, sempre a pensar naquele transe da madrugada, naquela alma que se partira da terra e do sofrimento para o seio do mistério. Queria segui-la, vê-la resolver-se em luz, integrar-se na claridade infinita-e olhava a fito: sentindo, porém, o sono, tentei levantar-me para chamar o Alfredo e encarrega-lo de encomendar o carro, mas a lassidão era tal que apenas pude soerguer-me, e logo recai nas almofadas, adormecendo imediatamente.

Gélida mão tocou-me a fronte de leve, apertou-me a mão que pendia à borda do leito e, abrindo os olhos assustado, vi uma forma brumal, um corpo sútil, diáfano, ondulante como um reflexo de névoa em águas trêmulas, sair fluindo em alor silencioso.