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E em seguida a tempestade
Diviso com potestade
Retumbar em escarcéus;
E apóz do mar as aguas
Em féras — horridas fraguas
Rasgarem nuvens dos céus!

Então lanço mão do leme,
E com coração que não teme
Do forte bramir do mar; —
Escuto a voz da verdade —
Do meu Deos a Magestade,
E vou sempre a caminhar.

Rinzo as vélas; — e se o vento
Cada vez maior tormento
Raivoso me quer soprar;
Reservado, e sempre crente
Espero que brevemente
Suas furias vem findar.

No horisonte apóz diviso.
Como se fôra um sorriso
D’entre uns labios de coral,
Rasgar-se a nuvem ventosa,
Mostrando-me a luz mimosa
Do findar do vendaval.